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Homofobia

    A “homofobia” designa uma série de aversões, em ações e discursos, direcionadas às homossexualidades. O termo, ainda que controverso, está difundido ao redor do mundo e no Brasil, onde ganhou força política a partir especialmente dos anos 2000. Segundo pesquisadores, esse conceito parece ter sido cunhado ainda nos anos 1960, principalmente a partir das rebeliões de Stonewall (1968). O primeiro texto que buscou tratar desse fenômeno foi escrito por K. T. Smith em 1971, no qual o autor analisou a chamada “personalidade homofóbica” (BORILLO, 2010, p.21). No ano seguinte, a obra Society and the healthy homossexual”, de G. Weinberg, definia “homofobia” como o “medo de estar em um ambiente fechado com homossexuais”.

    De modo sintético, podemos considerar a “homofobia” como atitudes e discursos de repulsa, aversão, desprezo, medo ou discriminação de homossexualidades. Esses sentimentos partem do preconceito e podem ser materializados de várias formas. Daniel Borillo, considerado um dos principais pesquisadores da temática, identifica tipos diversos de manifestação dessa violência e as elenca em conceitos antagônicos: cognitiva e irracional; geral e específica. (BORILLO, 2010 p.24-25).

    Não obstante a rigidez e violência das sociedades patriarcais grega e romana, não foram elas as precursoras da chamada “ideologia homofóbica” no denominado mundo ocidental (BORILLO, 2010, p.43), mas sim a tradição judaico-cristã. O Cristianismo foi quem lançou as bases para a desumanização do sujeito homossexual, estabelecendo dicotomias baseadas em doutrinas de exclusão. Assim, durante os séculos XIII-XV, essa população foi perseguida sob a justificativa da “ordem divina”. No entanto, era o poder régio quem executava o “juízo divino” sobre homens e mulheres de sexualidade dissidente. A partir do século XIX, a prática homossexual é retirada de vários Códigos Penais, mas permanece a repressão, agora por um aparato médico-psiquiátrico violento. (p.55).

    A partir daí, ocorre um processo de deslocamento da justificativa ideológica e política da perseguição contra pessoas homossexuais. Agora, o discurso dito científico da Eugenia determina os desejos e práticas homossexuais como sinal de patologia e “perversão”. Até meados do século XX, estaera uma visão fortemente difundida e apoiada pelos Estados. Foi também entre fins do século XIX, e durante todo o século XX, que os primeiros movimentos, revoltas e organizações políticas eclodiram, trazendo o termo “homofobia” como denúncia das violências que essa população sofria. Durante a última metade do século XX e principalmente a partir dos anos 2000, o conceito ganhou força política e analítica, além de ter-se difundido nas sociedades chamadas ocidentais, ao mesmo tempo em que organizações e coletivos se multiplicaram. (COLLING, 2018, p.15-23).

    Entretanto, o conceito ainda é controverso e, para muitos pesquisadores e ativistas brasileiros, necessita ser atualizado. Primeiramente, porque o sufixo “fobia” aponta, no Brasil, para uma noção patologizante. Pode-se falar em “chaga social”, mas, ainda assim, a associação com o vocabulário clínico causa divergências. Em segundo lugar, porque o conceito invisibiliza múltiplos sujeitos e identidades que também sofrem discriminação por sua dissidência afetiva-sexual e de gênero, como as pessoas lésbicas, bissexuais, transsexuais, intersexo, etc. Por conta disso, há quem especifique diferentes alcunhas a partir de diferentes interssecionalidades, utilizando termos como “lesbofobia”, “transfobia” e “bifobia”, ou, ainda, “LGBTFobia”.

    Carolline Acioli Oliveira Andrade
    Mestra em História pela Universidade Federal de Sergipe

    Referências Bibliográficas
    BORILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira. Autêntica Editora: Belo Horizonte, 2010.

    COLLING, Leandro. Gênero e Sexualidade na atualidade. Salvador, UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciência, 2018.

    Como citar?

    ANDRADE, Carolline A. O. Homofobia. In: ENTEMPO Enciclopédia Eletrônica do Tempo Presente. Aracaju: Getempo. Disponível em: <>. Verbete da Enciclopédia.