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Neofascismo

    Ao tratar da irrupção dos fascismos e fundamentalismos, o Professor Francisco Carlos Teixeira da Silva toma como ponto de partida o pós 1945. Idéias embasadas no sentimento de frustração, raça, fé e honra coletiva, serviram de base a um retorno violento ao processo que chama “retribalização” por alguns grupos sociais, como resposta às crises do mundo pós-moderno.

    Em meio a uma série de conflitos sociais, pós Guerra Fria, os conceitos sobre fascismo e fundamentalismo ressurgem:

    “A ideia do Estado como um agente da Razão e do progresso tornou-se fantasmagórica e o objetivo que deveria unir todos na crença de que este era a ferramenta mais hábil na busca do Bem Comum entra em crise, sendo substituída por alternativas muito menos humanistas ou generosas.” (SILVA, 2004:130)

    Marcha do grupo neofascista grego Aurora Dourada em 2015. Fotografia tirada por DTRocks e disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Golden_Dawn_members_at_rally_in_Athens_2015.jpg

    A destruição das formas tradicionais – pela modernidade – e a recusa ao moderno – pelo antiocidentalismo – têm arrastado multidões ao caos, alimentando a recusa radical ao diferente, ao outro e a diversidade trazida pelo moderno. É esse emaranhado de questões e recusas que impulsiona irrupções de (neo)fascismos, fundamentalismos e criminalidade neste século.

    O neofascismo, o fascismo ressurgido na década de 1980, e o fundamentalismo possuem características comuns. Ambos compartilham da desconfiança perante o outro, permanente violência como resposta a qualquer desafio, alteridade social e individual, e atribuições de valores absolutos a si mesmos. Nesta perspectiva, judeus, gays, ciganos, por exemplo, são culturas com fortes laços de solidariedade, auto-identidade e ajuda, portanto, alvos de desconfiança e rejeição por parte dos (neo)fascistas.

    O (neo)fascismo critica o tempo presente e regride a um passado repleto de tradições e construções históricas de heroísmo da nação e da coletividade. Ao mesmo tempo, cultua o progresso tecnológico disponível na modernidade, oferecendo simultaneamente a segurança de uma sociedade tradicional e as consecuções possibilitadas pela tecnologia.

    Neste culto ao progresso e na apologia a uma sociedade tradicional representada por um líder, estes indivíduos – (neo)fascistas – identificam-se “como únicos religiosos verdadeiros, como únicos leais ao grupo ou ao bando, enquanto sobre todos os demais projeta-se a forma negativa de tal auto-identidade” (SILVA, 2004:141).

    O fascismo surgiu na Itália em 1921 e na Alemanha (nazismo) em 1929. Apesar das particularidades intrínsecas a cada nação onde atuou, alguns traços permaneceram idênticos: antiliberal, antiparlamentar, antimarxista e centrado no autoritarismo; a defesa de um Estado orgânico sob a figura de um líder; a idéia de uma comunidade do povo baseada em princípios de sangue, raça e história vivida; a substituição e recusa do eu individual pensante e do outro diferente, pela coletividade (o Estado).

    Esses traços genéricos emergiram na década de 1980 em variados países impulsionado por um fator de ordem ligado principalmente a crescentes crises econômicas, elevadas taxas de desemprego e ao mesmo tempo aumento no índice de produtividade tecnológica. O neofascismo tem usado como ferramenta básica a propaganda e a agitação valendo-se desses fatores.

    Em países como Alemanha, França, Rússia, Áustria, Países-Baixos e do Leste Europeu, o neofascismo, apesar de apresentar características gerais comuns, emergiu de acordo as particularidades de cada um destes lugares.
    O neofascismo na Alemanha, por exemplo, tem apelando para uma revisão da história sobre o Holocausto, argumentando que este não aconteceu tal como apresentando pelos sistemas de informação, apontando-o inclusive, como estratégia de dominação sionista – judaica.

    Na Rússia, surge com uma notável militarização da política. Apela para o renascimento do ensino cívico-militar e uma tendência a recuperação de temas e rituais da Igreja Ortodoxa, bem como, valorização dos temas históricos ligados a imagem da Santa Rússia. Na França, os ideais fascistas giram em torno do partido Front National, criado em 1972, tendo como lema principal o embargo as migrações e o retorno dos imigrantes instalados no país.

    O neofascismo austríaco aparece na figura do Partido da Liberdade (Freipartei Österreichs – FPÖ), assumidamente racista e grande financiador de partidos extremistas na Europa, como o Vlaams Block, da Bélgica, o Partido da Verdade e da Vida (MIEP), da Hungria, Mouvemente National Républicain, da França, além dos CSU bávaro, NPD e Republikanerpartei, alemães. Irrupções de neofascismos também tem ocorrido na Espanha, Inglaterra, Portugal, Suíça, EUA e países da América Latina.

    Nesta perspectiva, o neofascismo com ideais de unificação, tradição, progresso, superioridade racial e combate aos inimigos é visto como resolução de problemas e não gerador, como de fato é. Sua propaganda atraente e manipuladora, chama atenção daqueles que buscam uma solução e um culpado para as crises nacionais. Através de discursos, músicas, folhetos, cartazes, livros e revistas, mas principalmente pela Internet, doutrina e veicula seus ideais.

    Desse modo, o neofascismo tem-se mostrado um dos males que acompanharam a pós-modernidade no século XX e continua seguindo rumo ao século XXI. O culto a morte, a intolerância e exclusão do outro, os extremismos, as reações violentas, a frustração e os conflitos, são elementos que o seguem de perto.

    Karla Karine de Jesus Silva
    Mestra em História pala Universidade Federal de Sergipe

    Referências Bibliográficas:
    SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. O Século Sombrio uma História Geral do Século XX. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 123-190.

    Como citar?

    SILVA, Karla K. J. Neofascismo. In: ENTEMPO Enciclopédia Eletrônica do Tempo Presente. Aracaju: Getempo. Disponível em: <http://enciclopedia.getempo.org/2021/04/22/neofascismo/>. Verbete da Enciclopédia.