Originada do árabe pré-islâmico, o vocábulo jihad etimologicamente significa esforço, empenho, ou luta por uma causa digna. Tal noção foi adotada pelos muçulmanos e passou a ser costumeiramente empregada na frase “al-jihad fi sabil Allah”, ou “esforço no caminho de Deus”.
O emprego da jihad no Corão ocorreu com mais sentido: nos versos referentes as primeiras pregações de Muhammad em Meca, quando os convertidos eram hostilizados pela população politeísta, a palavra foi empregada no sentido de “jihad al-nafs”, a luta individual contra o próprio ego, realizada através de atos pacientes e tolerantes nomeados de sábr. Posteriormente, nas revelações feitas após o estabelecimento da primeira comunidade muçulmana em Medina, a jihad foi descrita como um combate defensivo, a “jihad al-sayf”, cujo tipo de luta era diferenciado da guerra secular (harb) pelo termo qital.
A existência do duplo significado não deve ser entendida como uma ambiguidade, pois jihad se constitui em um “termo amplo que engloba diferentes tipos de esforços humanos na Terra” (AFSARUDDIN, 2017). O que diferencia os tipos esforços é que enquanto o sábr deve ser continuo na vida do fiel, o qital era um recurso restrito a situações delimitadas pelo Corão. Para ética muçulmana, a luta interna do ser humano contra o próprio ego é superior àquela que se opõe ao inimigo externo; a comprovação disso encontra-se em uma hadith em que o Profeta, ao retornar da batalha, afirmou que aquela havia sido a “pequena jihad” e que a partir daquele momento deveriam dedicar-se constantemente a “grande jihad”, a luta contra o próprio ego.
Sendo assim, a proeminência adquirida pelo qital sobre o sábr, sobretudo nos escritos da jurisprudência islâmica, não estava previsto nos escritos sagrados, mas resultou das instrumentalizações do conceito concebidas para atender demandas identitárias, políticas e ideológicas.
Katty Cristina Lima Sá
Mestra em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Referências Bibliográficas:
AFSARUDDIN, Asma. Orientalists, militants, and the meanings of jihad. 2017. In: Renovation – the journal of Zaytuna College. Disponível em: https://renovatio.zaytuna.edu/article/ orientalists-militants-and-the-meanings-of-jihad. Acesso em 30 de janeiro de 2018.
ASHMAWI, Muhammad Sa’id. Islam and the political order. Washington D.C: Libary of the Congress, 1993, p.71.
JALAL, Ayesha. Combatentes de Alá: a jihad no sul da Ásia. São Paulo: Larousse, 2009.
Como citar?
Sá, Katty C.L. Jihad. In: ENTEMPO Enciclopédia Eletrônica do Tempo Presente. Aracaju: Getempo. Disponível em: <http://enciclopedia.getempo.org/2021/04/05/jihad/> Verbete da Enciclopédia.