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Skinhead

    A subcultura skinhead (em português: cabeça raspada) se originou dos jovens de classe operária na Grã-Bretanha por volta de 1968. Chamados desta forma devido ao corte de cabelo, os primeiros skinheads representavam, por um lado, uma revolta antiburguesa, que reivindicava valores da comunidade e da solidariedade da classe operária. E por outro lado, era um fenômeno de banda e de moda, com ausência de racismo. Foram fortemente influenciados pelas músicas stead beat e ska de origens jamaicana. Sua indumentária consistia de jeans, camisas Ben Sherman, botas Doc Martens e suspensórios, conjunto simbólico que representava uma crítica à burguesia inglesa.

    Grupo de skinheads & hippies em Piccadilly Circus, 1969. Fotografia de Terry Spencer. Imagem retirada de: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:London_Skinheads.jpg#/media/File:London_Skinheads.jpg

    No final dos anos 1970 a raça e a política tornaram-se fatores determinantes no movimento. Com a crise financeira na Inglaterra, altas taxas inflacionárias e desemprego no governo Thatcher (1979-1990), alguns começaram a se ressentir contra imigrantes e asiáticos vistos como seus concorrentes no mercado de trabalho. Estes fatores geraram divergências entre os skinheads, dividindo-os em grupos de extrema-direita, extrema-esquerda e os considerados apolíticos, herdeiros do movimento original.

    Tendo a música como principal referência, em atitude e modos de ser, Bad Manners, Sham 69, The Oppressed, Los Fastidios, Scrapy, Laurel Aitken, são exemplos de bandas e músicos skins que influenciaram o movimento inicial. Alguns destes identificam-se como Skinhead Trojan (skinheads tradicionais), Skinheads Against Racial Prejudice (skinheads contra o preconceito racial – SHARP) ou Red and Anarchist Skinheads (skinheads comunistas e anarquistas – RASH).

    Os Neofascistas são outro lado do movimento skin. White Power (poder branco), Combat 18 e Blood and Honour são alguns dos grupos de skinheads neonazistas mais conhecidos. O comportamento violento, a xenofobia, a veneração à figura de Adolf Hitler, o anti-semitismo e a cultura do ódio, são características destes grupos skins de extrema-direita. Isso levou a uma generalização do movimento como um todo. Consequentemente a figura do skinhead não é mais pensada de forma dissociada desses fatores.

    Apesar disso, há uma grande diferença entre os “sobreviventes” (tradicionais) da cultura skin de 1969 e os neonazis, que inclusive, não consideram os neonazistas como skinheads. Em entrevista ao documentário Skinhead Attitude, Buster Bloodvessel, vocalista da Bad Manners e skinhead tradicional, afirma que “os skinheads devem primeiro amar suas Doc Martens, amar a música ska, ter a atitude correta, ter a atitude correta em seu coração e na cabeça. Tem que gostar de futebol. Tem que gostar de agitar mais do que qualquer outra pessoa de outra subcultura. E o que creio ser mais importante – ser antiracista”.

    O movimento skinhead não se restringiu ao seu local de origem – Inglaterra. Mas, desde a década de 1970 espalhou-se pela Europa e demais continentes em suas diversas formas: Trojan, SHARP, RASH e Neonazista. Em cada país onde atuam, as facetas do movimento incrementam características típicas do lugar, sem perder, contudo, sua essência.

    Karla Karine de Jesus Silva
    Mestra em História pela Universidade Federal de Sergipe


    Sobre a Imagem: Grupo de skinheads & hippies em Piccadilly Circus, 1969. Fotografia de Terry Spencer em 1969. Disponível em: https://www.museumoflondonprints.com/image/446553/terry-spencer-group-of-skinheads-hippies-in-piccadilly-circus-1969. Acesso em 17/09/2020.

    Referências Bibliográficas:
    SCHWEIZER, Daniel. Skinhead Attitude. Suíça: Dschoint Ventschr Filmproduktion, 2003. Duração: 1:28h. Formato: DVD.
    SALEM, Helena. Coordenação: Emir Sader. As Tribos do Mal: o neonazismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Atual, 1995.
    SALAS, Antonio. Diário de um skinhead: um infiltrado no movimento neonazista. Tradução Magda Lopes. São Paulo: Planeta, 2006. p. 27-36.
    SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (ORG.); MEDEIROS, Sabrina Evangelista (ORG.); VIANNA, Alexander Martins (ORG). Skinheads. In: Dicionário crítico do pensamento da direita: idéias, instituições e personagens. Rio de Janeiro: FAPERJ: Mauad, 2000.p.419-421.

    Como citar?

    SILVA, Karla K.J. Skinhead. In: ENTEMPO Enciclopédia Eletrônica do Tempo Presente. Aracaju: Getempo. Disponível em: <http://enciclopedia.getempo.org/2021/02/25/skinhead/> Acesso em: Verbete da Enciclopédia.