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Estado Islâmico

    O Estado Islâmico é um grupo jihadista que possui como premissa o domínio territorial e a instauração de um Califado global, tendo surgido após a dissidência da franquia da Al-Qaeda no Iraque (AQI). Ainda que seu reconhecimento sob tal denominação date de junho de 2014, ocasião em que ISIS se autoproclamou um Estado legislado através da interpretação literal sharia, o histórico desta entidade remonta ao estabelecimento do Tawhid al-Jihad no Iraque por Abu Musab al-Zarqawi (1966-2006).

    Campo de treinamento para artes marciais do Estado Islâmico. Fonte: Revista Dabiq, nº 06, p.27

    O grupo Tawhid al-Jihad  iniciou suas operações no Iraque em 2003 com uma série de ataques suicidas, que inicialmente foram atribuídos as brigadas xiitas de Moqtada al-Sadr (1974-). A notoriedade de al-Zarqawi e de seus subordinados foi construída gradativamente e, entre os iraquianos, ela foi motivada pela desordem política e pelo sectarismo do pós-invasão norte-americana. Por outro lado, a mídia internacional focou nas ações dos jihadistas após a realização e documentação de atos de grande violência, a exemplo da decapitação empresário americano Nicholas Berg em 2004.

    No mesmo ano, al-Zarqawi anunciou seu juramento de lealdade a Osama Bin Laden (1957-2011) e transformou seu grupo jihadista na Al-Qaeda do Iraque. A realização da aliança foi um casamento de interesses que trouxe a ampliação do reconhecimento midiático para ambos os envolvidos. Com o assassinato do líder da AQI em 2006, houve o processo de diferenciação e distanciamento da franquia em relação à Al-Qaeda, motivado pelo chamado “Despertar Sunita” de 2008, ou seja, a rebelião das tribos sunitas que apoiaram al-Zarqawi no início da ocupação, mas que desertaram por conta da política religiosa rigorosa imposta por esse e pela AQI, entidade que passou a ser vista como outra face da força de invasão.

    Mediante a esta situação, o grupo desassociou sua imagem da Al-Qaeda e a criou uma estética e composição de quadro mais próximas à cultura sunita do Iraque. Para tanto, incorporou-se iraquianos nos cargos de liderança e o nome da franquia foi alterado para Estado Islâmico do Iraque (EII). Em 2010, o iraquiano de Samarra Abu Bakr al-Baghdadi (1971-2019) ascendeu a liderança do EII.

    O início da Guerra Civil Síria em 2011 foi visto por al-Baghdadi como o período ideal para iniciar a expansão do território de atuação do EII, porém as tentativas para tanto foram rechaçadas Ayman al-Zawahiri (1951-), líder da Al-Qaeda. O sucessor de Osama Bin Laden também condenou os ataques contra xiitas realizados pelo grupo do Iraque, contudo al-Baghdadi persistiu com a introdução de soldados e com os ataque contra comunidades xiitas na Síria.

    Perante a desobediência de al-Baghdadi, al-Zawahiri declarou, em fevereiro de 2014, que as atividades e ações do Estado Islâmico não eram mais de responsabilidade da Al-Qaeda. Esse episódio marcou a primeira fratura na rede fundada por Osama Bin Laden. Desde então, os partidários do grupo dissidente passaram a denominar-se como al-Dawla (o Estado), e seguiram com seu processo de expansão territorial pela Síria e Iraque.

    No período em que demonstrou maior força, em meados dos anos de 2014 e 2015, o Estado Islâmico controlou cerca de 40% do território iraquiano, conforme exposto no relatório do Counter Extremism Project. Por fim, em seguida a tomada da cidade de Raqqa, o grupo se autodeclarou um Califado e fez daquela cidade sua capital até o ano de 2017, quando foi derrotado por rebeldes curdos.

    Nota sobre terminologia: O grupo autodenominado Estado Islâmico foi referenciado na mídia e em textos acadêmicos de formas diversas. A sigla ISIS, por exemplo, refere-se Islamic State of Iraq and Sham, sendo que “Sham” é uma nomenclatura histórica e em árabe para região do Levante, que perpassa por territórios do Líbano e da Síria atuais. Outra sigla é ISIL em que “Sham” é trocado pelo Levante.  

    Em árabe, o equivalente de ISIS é Da’esh (al-Dawla al-Islamiyya fi-l ‘Iraq wa-l Sham). Tal denominação é muito usada por oponentes e renegada por partidários do Estado Islâmico, pois soa como “pisotear” e “tolo” em árabe.

    Katty Cristina Lima Sá
    Mestra em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro


    Referências             

    COUNTER EXTREMISM PROJECT. ISIS. Disponível em: < https://www.counterextremism.com/threat/ isis>. Acesso em 20 de setembro de 2019.

    NAPOLEONI, Loretta. A fênix Islamita: oEstado Islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2015. 

    WEISS, Michael; HASSAN, Hassan. Estado Islâmico: desvendando o exército do terror. São Paulo: Seoman, 2015.

    WOOD, Grame. A Guerra do fim dos tempos: o Estado Islâmico e o mundo que ele quer. São Paulo: Cia das Letras, 2017.  

    Como citar?

    SÁ, Katty. C.L. Estado Islâmico. In: ENTEMPO: Enciclopédia Eletrônica do Tempo Presente. Aracaju: Getempo. Disponível em: http://enciclopedia.getempo.org/2021/04/11/estado-islamico. Verbete da Enciclopédia.